quinta-feira, 25 de setembro de 2008

A DÉCADA DE 50


A idéia de escrever sobre a década de 50 partiu desta foto montada na internet pela Luíza, minha cunhada. Não é mais novidade o site que monta seu rosto com fotos de várias décadas. A que achei menos horrorosa foi dos anos 50. Procurei na internet dados que me ajudassem a escrever o que se passava nessa época no Brasil e achei um texto lindíssimo escrito pelo Advogado, jornalista, radialista, escritor, professor e político brasileiro Artur da Távola (Rio de Janeiro, 3 de janeiro de 1936 — Rio de Janeiro, 9 de maio de 2008), ele descreve um Brasil bem carioca mas nessa época o Rio estava no seu ápice e seu texto é realmente delicioso.


“E de repente a década de cinqüenta varejou minhas defesas e talvez pela distância de mais um ano que se vai, derrubou as muralhas do meu hoje.
Veio o após-guerra carregado de crenças e reconstruções. As Nações Unidas augurando um mundo novo, para um homem novo.
Era a festa de formatura, o par constante. Era dançar "Lover" com a orquestra de Osvaldo Borba. Rosto colado, uma conquista. Cine-Rian, sessão das quatro selava o chamado "namoro firme".
Era Dolores Duran crooner de orquestra. Eram as músicas da Dolores na voz de Almir Ribeiro, que morreira afogado no Uruguai. Era o baile do Marimbás, era aquela briga no baile do Yate. Era penetrar nas festas, era o bingo ou a "boite-show" Era Didi, era Tesourinha. Era Rubens, era Castilho chamado de "leiteiro", o maior goleiro que já vi jogar (não dava certo na seleção). Era Tiroleza, era o inesquecível Gualicho, ganhando no jóquei. Era o incêndio do Vogue, era o Tenente Bandeira, era a noite de Antônio Maria ou a crônica do Rubem Braga. Era Gregório Barrios cantando "Dos Almas", era o bolero "Hipócrita" ou a orquestra de Roberto Inglês o dia inteiro nas rádios. Era "Night and Day".
Era uma ânsia de coisas novas parecendo possíveis e predispostas a servir um mundo de menos ameaças. Era o "acebolado" do Lamas, era Nat King Cole ou Billy Eckstein. Era "Tenderly". Era Caymmi cantando "Sábado em Copacabana". Era Ava Gardner! Um dia ela veio e tomou um pileque na boite em que estávamos. Sei quem saiu com ela.
Era o Carlinhos Oliveira copy-desk do Diário Carioca.
Era hoje o grande escritor Rubem Fonseca (já leram O Caso Morel?), então apenas o Zé Rubem, fazendo peso. Era Prudente de Morais Neto entrando na redação diariamente e apertando a mão de um por um.
Era Tom Jobim e um amigo seu (e meu) o Newton Mendonça, morto muito cedo, o Newton “Maestro", lá numa Ipanema sem badalos e só ternuras. Um dia Newton conseguiu gravar, se não me engano com a cantora Dora Lopes. Veio correndo contar. Depois, "Desafinado", "Samba de Uma Nota Só" com o Tom. Tom ficou, foi gênio e gente boa, Newton morreu e só ficou para uns poucos conhecedores de nossa música popular, e para nós seus amigos.
Era uma esperança enorme nas pessoas. A década de 50 foi a década da esperança. A gestora de expansões posteriores que se embebedaram de si mesmas, se atrapalharam todas, mas nem por isso deixaram de ser importantes. Era uma vontade de Ser.
Era a Rádio Nacional, era Paulo Roberto e a Lira de Xopotó. Era Marlene ou Emilinha? Era Blecaute. Carmélia Alves, Bill Farr, e a voz linda de Neuza Maria. Era Luis Bonfá despontando e Donato talentoso. Era Roberto Menescal destrinchando os primeiros mistérios da guitarra nas festinhas do Posto 4. Era o terno jaquetão e calça boca 21. Era a Boate Casablanca com o show da "Velha Guarda", quando a turma de Pixinguinha começava a ser redescoberta. Era a "felipeta", era o lotação, era o TBC, era o Teatro de Nélson Rodrigues. Era o filme francês, era o filme italiano. Era Villa-Lobos vivo.
Era o estribo do bonde e o sanduíche de mortadela. Era o carro conversível do amigo rico, era a coleção de carteiras de cigarro. Meu pai fumava Petit Londrinos.
Era o pai da garota, era a mãe casamenteira. Era o "pega-rapaz", era a anágua. Era a Ângela Maria, era Cauby. Eram as chapinhas premiadas do refrigerante "Guará". Era o Repórter Esso, era a construção civil, era a Petrobrás. Era Brasília no sonho, o futuro na esperança. Era a Turma dos cafajestes, era o "High-Life", era beber "Cuba-Libre", que horror! Era o Rio alegre e solto. Era San Thiago Dantas professor. Como era inteligente!
Década de cinqüenta, foste um hiato disfarçado de "belle-époque". Uma pausa de esperança. Um suspiro de descanso. Hoje, quando voltas, não creio eu nostalgias. Creio em novos cansaços, tão prematuros.”

2 comentários:

Luiza disse...

Bacana a idéia de pôr a foto num contexto.
Gostei do texto e gostei da foto.
Um beijo

Tita disse...

Nossa Fê que texto lindo... muito boa a sua foto!! Vc ficou ótima!!! Beijos